Quando era muito pequena, talvez tinha um ano de idade, ficava muito tempo na casa dos meus avós paternos. Foi numa tarde de sabado em que minha mãe estava chegando na casa deles para me buscar, quando encontrou meu avô caído no chão. Ela chamou a ambulância e logo perceberam que ele estava tendo um ataque cardíaco, o socorreram o mais rápido possível. Todos imaginaram o pior: a morte.

Depois de muitos anos, ele contou o que havia acontecido com ele naqueles instantes de morte, mas disse que não podia contar tudo, acho que foi um acordo entre ele e Deus.
Ele disse que viu um homem que lhe disse para voltar e que ele precisava ver muitas coisas ainda, ter muita experiência na vida, ver seus filhos e netos. Ele parou de contar na hora com uma cara feliz e nunca mais contou nada sobre o assunto. A nossa família não perguntou nada e ele simplesmente fingia que nada aconteceu.
Aproximadamente 14 anos depois disso, meu telefone tocou numa terça feira de setembro, meu tio simplesmente falou: Bruna me chama o seu pai. Eu sem entender passei o telefone para o meu pai e ele depois de uns dois minutos, caiu no sofá chorando. Foi a única vez que vi meu pai chorando.
Meu avó morreu numa tarde de primavera, onde o céu estava aberto, ele morreu com um sorriso no rosto e ficou quente por 24 horas após a morte. Eu ainda me lembro como se fosse ontem, meu pai levando seu caixão. Depois desse dia eu nunca mais fui a mesma pessoa, porque eu ainda me lembro do que ele falava para nós: "Não importa o que aconteça, você pode ser jogador de futebol, mas tem que ser do Santos, pode limpar a rua, mas cantando, pode servir, mas se for Deus, pode chorar, mas de alegria."
E agora sempre lembramos dele na hora do jantar, rimos das vezes que ele jogava na mega sena, rimos das vezes que ele caía na rua, comia com colher, gastava todo seu dinheiro com os netos, me levava de mãos dadas para a escola, xingava os corintianos.
E se o cara que ele viu naquela noite a uns dezoito anos atrás estava certo, o meu avô fez um bom trabalho.
Em memória de Pedro Leandro
Um comentário:
Nossa Bru, que texto incrível. Histórias incriveis assim, pessoas incríveis assim, nunca se vão. Ficam pra sempre na memória de quem os amou e foi amado por eles.
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