Eu sentei na cadeira que minha mãe deixou dentro do box do banheiro para que eu pudesse tomar meu banho, eu entrei e pedi pra que ela saísse. Com muito esforço eu me joguei na cadeira e fiquei sentada por um tempo, depois de um longo tempo eu liguei o chuveiro e deixei a água me molhar, enquanto eu fiquei chorando por sei lá quantas horas, acho que quase um dia inteiro. Eu chorei até não ter mais lágrimas, me lavei de lágrimas, purifiquei meu coração, minha mente e recorri até um velho amigo que machuquei: "Puta que pariu, como seu filho está lindão", eu disse pra ele.
Muitos anos anteriores, eu troquei seu carinho por outro, disse que não queria estar ao seu lado e que nunca mais queria o ver na minha frente.
Ele chorou muito e disse que me amava, que faria qualquer coisa para estar ao meu lado, ele não parava de me ligar, até que desistiu.
Quando ele descobriu que eu estava com outra pessoa, ele simplesmente veio conversar comigo e me entregou uma carta, meio rasgada e meio manchada.
Na carta havia muitas frases marcantes, desde "eu desejaria a morte agora do que ver você sorrindo ao lado dele...", porém o que me marcou muito e que eu nunca me esqueci mesmo não tendo as cartas em mãos, foi o trecho final:
"Você foi a pessoa que eu amei, que sempre amarei. Não sabe como é saber que seus sentimentos por mim foram uma mentira, uma coisa passageira. Um dia você vai sentir tudo o que estou sentindo, um dia você vai sentar no chão frio do banheiro, ligar o chuveiro e chorar tanto, até que seus olhos caiam de tanta dor. Alguém um dia vai te trocar por alguém mais bonito, mais legal, essa pessoa um dia vai escrever coisas lindas para outra pessoa e você vai descobrir que ela nunca te amou... Não se preocupe comigo, as coisas vão melhorar daqui pra frente, eu posso morrer agora, mas é melhor do que morrer depois. É, eu vou terminar essa carta, pois já está amanhecendo aqui, mas acho que para você isso não tem nenhuma importância.
Eu te amo."
Eu pedi perdão, hoje essa pessoa já tem uma família, apesar de novo. Hoje essa pessoa é muito feliz, não tem raiva de mim ou do que fiz, mas ainda sim não somos amigos, apenas perdoados, vou definir assim.
Ele tinha razão tudo que vai volta, ele tinha absoluta razão, alguém destruiu meu coração, eu chorei por horas dentro do banheiro, perdi o senso da razão, senti enormes vontades de parar de tomar os medicamentos, de ficar sem comer, de ficar ouvindo The Kooks, Noah and The Wale, Titãs, Incubus e todas as letras de amor possível, até mesmo Fresno, Cine, Restart e essas bandas podres que alguém houve na depressão. Mas depois de um longo dia, as coisas começam a transparecer, os amigos aparecem do nada, sairam de baixo da cama, de dentro do banheiro, de dentro do guarda-roupa, todos vindo até mim, me socorrendo e ao invés de dizer "EU TE AVISEI", eles me abraçaram, me fizeram rir, me dando coragem, arrumando meu cabelo, me mostrando a beleza que eu nunca vi em mim. Me mostrando o quanto tempo eu perdi nesses anos, sendo enganada, traída, enquanto havia tantas pessoas ao meu redor, pessoas especiais.
Bam Tché, me perdoe por tudo, por todas as vezes que vocês falaram "Bruna você vai se destroir", é eu sei que precisei cometer o pior erro da minha vida, precisei perder as coisas mais preciosas da minha vida só para chegar no final e ouvir com todas as palavras o que meus guris sempre diziam, só que da voz de uma pessoa.
Hoje eu acordei, meio cansada de ficar sozinha, meio chateada por não saber o que fazer, mesmo tendo que fazer um milhão de coisas. Levantei e depois de me preparar com muito esforço, eu vim até a minha mesa. No meio dela tinha um monte de papéis, recados, negócios do emprego, da faculdade, exames, receitas de remédios, coisas para adiantar enquanto estou me recuperando, mas dentro de toda essa bagunça, perto do calendário meu pai com sua letra meio bagunçada deixou o seguinte bilhete: "A New day has come", foi tudo que precisava ouvir depois de tanto, a frase mais completa e fiel que pude ouvir do meu pai desde os acontecimentos. A frase que me fez escrever esse texto, mesmo não querendo, mesmo achando que tudo isso deveria ficar guardado dentro de mim, como uma lição.
Mesmo sendo questão de dias, hoje eu ri sozinha, dei risada do nada, comecei a cantar Al Green sozinha, organizei minha cabeça e ainda fiquei rindo, sentei na cama da minha irmã e olhei os prédios, lembrando de tantas coisas boas e pensando na nova vida que estou começando, mesmo com o pé machucado, as portas que se abriram para mim, coisas surpreendentes, viagens loucas que eu não vejo a hora de me aventurar, presentes bestas que recebi, convites para países que nunca imaginei que receberia, sonhos que nunca pensei que iria se realizar.
A pessoa que me machucou? Ela deve estar vivendo a felicidade dela, deve estar com quem ela ama verdadeiramente, investindo nisso para ela, mas não fico com raiva dela e lhe desejo muitas felicidades, mesmo sabendo que o caminho que ela escolheu não vai dar frutos, mas tenho certeza que um dia nós vamos nos encontrar em algum lugar, assim por acaso, pois um dia ela vai precisar, como eu precisei um dia, me ouvir dizendo "Eu te perdoou".
Ao som de Al Green, obrigada Jesus!
Um comentário:
bruna, teu blog tem sido uma constante inspiração. é impressionante ver como tu se expressa bem. espero que esse guri que tanto te machucou, passe e finde, assim como passam e findam os anos. então, tenho certeza que o amor vai chegar. de verdade. afinal, "amor é o que se aprende no limite depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.." ou não é?
um grande abraço.
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